O jornalista, que na época escrevia para o jornal The Guardian, revelou um suposto final alternativo escrito pela própria Rowling. Greg foi um amigo da escritora, e devido a várias insistências, essa contou-lhe um outro desfecho para a trama, ideias essas que não foram aproveitadas para o final real. Greg Palast não se conteve e publicou o outro final da história, com o seguinte pedido de desculpas: "Desculpe, Jo, esse é o perigo de fazer amizade com um repórter investigativo – se você esquecer de usar as palavras mágicas isso é em off".
Confira abaixo, o suposto final que J.K. Rowling não publicou.
Para a Floresta Proibida
Harry marchou em direção ao campo onde Voldemort esperava com seu grupo de Dementadores. A cicatriz de Harry queimava brutalmente, salvando-o da dor de pensar muito profundamente sobre sua decisão, que provavelmente o levaria a nada além da morte.
Que mal especial, que mortal e desleal feitiço teria o Lorde das Trevas preparado para a destruição de Harry? Voldemort havia caçado Harry por mais de uma década; sem dúvida Voldemort iria se armar com uma maldição especial muito mais poderosa e definitiva que a Avada Kedavra que falhara na tentativa de matar Harry quando criança.
Harry estava terrivelmente certo. O Lorde das Trevas, em sua clareira na Floresta Proibida, estava preparando um feitiço tão devastador quanto Harry temia, e muito mais horrível. Enquanto Harry caminhava para o encontro que fazia parte de seu destino, Voldemort passava sua varinha entre os frios Dementadores, mandando cada um dar um de seus beijos nela.
Voldemort, naquelas noites dolorosas e solitárias de seu exílio e recuperação, havia criado uma forma de lançar um beijo de Dementador com sua varinha, o beijo que tiraria a alma de sua vítima para sempre. E agora ele atingiria Harry com centenas deles. A recompensa de Voldemort seria maior do que assistir ao enterro de Harry. Ele teria Harry congelado no lugar, a vida de Harry envolta pela eternidade no momento de sua humilhação e derrota final, um monumento aterrorizante à vitória de Voldemort para que todos vissem para sempre. A alegria de Voldemort crescia a cada beijo de Dementador em sua varinha.
Harry podia sentir o frio sepulcral deles à medida que se aproximava e a força de seu desespero. Era algo sem esperanças, e ele estava indefeso perante isso. E ele sabia.
Mas, então, Harry sentiu a presença de um rapaz e de uma moça, embora não pudesse vê-los. Os dois fantasmas amavelmente ergueram seu corpo e levantaram seu espírito. Isso era, ele tinha certeza, o último resto de força vital de seus pais, fazendo um último sacrifício para se unir a ele em sua jornada final. Ele se permitiu um momento de felicidade pacífica, sentindo-os tão perto.
Então ele parou. Harry tremeu com um profundo arrepio de reconhecimento. Eles não eram seus pais. Eram os de Voldemort: o jovem Tom Riddle e sua noiva que, para esta ocasião, havia recuperado sua bela fisionomia original. Eles disseram, sem usar palavras, “nosso querido filho, não permitiremos que você seja ferido”.
Eram para ele essas palavras? Ou para Voldemort? De alguma forma, não parecia importar – elas pareciam tão bondosas quando tudo que ele precisava nesse momento era o amor dos pais.
Harry e os dois espíritos calorosos, se tornando mais aparentes, aproximaram-se da borda da agitada multidão de seguidores de Voldemort, que se afastaram, preparando para a vítima um caminho fácil para sua condenação.
A varinha de Voldemort havia retornado à sua mão branca e esquelética. O Lorde das Trevas a apontou com confiança para onde Harry certamente surgiria da multidão, não ainda para destruir Potter, mas para falar com ele, enquanto preparava-se para dar a Harry um discurso sobre a punição eterna prestes a atingi-lo.
Voldemort riu quando Harry chegou tropeçando. Mas, quando o Lorde das Trevas viu os espectros de seus pais, ele uivou como se fosse cortado ao meio. Com seu coração furioso em chamas, Voldemort imediatamente lançou os beijos mortais, berrando “Oppugno Mortimbessios!”. E todos os terrores vis dos Dementadores, em um clarão sem fim de sua varinha, correram em direção a Harry e aos espíritos ao seu lado.
Demorou apenas um centésimo de segundo para que a maldição de Voldemort alcançasse Harry. Mas, de alguma forma, o mundo pareceu desacelerar, a Terra parou de girar; todos no planeta ficaram imóveis, embora Harry tivesse noção que estava livre para se mexer. Harry havia preparado todos os feitiços escudo para sua defesa, mas agora eles todos eram visivelmente inúteis. Harry se viu incapaz de fazer qualquer coisa a não ser inclinar-se sobre um dos joelhos e abaixar a cabeça, preparando-se para aceitar a força do golpe e sua morte e fim.
Quando ele se ajoelhou, naquele momento quieto fora do tempo, as duas sombras voaram dele em direção a Voldemort. E Voldemort mudou. O vento gélido dos Dementadores, e o Tempo, moveram-se de trás para frente; e lá estava Voldemort, voltando para sua figura mais jovem, poderosa e assustadora.
A maldição atingiu a cicatriz de Harry, obliterando-a, e a seguir, em um rugido alto, ele sentiu a dor esmagadora de seu crânio se abrindo, e então a maldição de som agudo correu de sua cabeça – de volta para a varinha que a havia enviado.
Quando a maldição se virou contra ele, Voldemort continuou a rejuvenescer ainda mais, até que se tornou novamente uma criancinha, com sua mãe e seu pai ao seu lado. Quando perceberam que a força total do encanto do próprio Voldemort estava prestes a atingi-lo, seus pais colocaram seus reconfortantes braços ao redor do filho para protegê-lo do golpe final.
E então ele atingiu. E agora as três almas entrelaçadas, Tom Riddle, sua esposa e filhinho, permaneceriam para sempre sepultados naquele momento único, sem nunca poder ir embora.
E nunca querendo ir.
Hogwarts 2130 DC
O mestre, com sua pegajosa barba branca despenteada e sua cabeça careca e enrugada, coberta por um chapéu de feiticeiro inclinado, olhou com gratidão melancólica para a moldura vazia que ele tinha convencido o Ministério a colocar, apesar da relutância deste. Ele sabia que logo estaria vivendo naquele pequeno quadrado, gravado com o nome “Harry Potter”, separado de Albus Dumbledore apenas pelos retratos das mestras McGonagall e Chang.
O velho mago podia ouvir lá embaixo a movimentação na escola com os preparativos para seu 150º aniversário. Ele mudou Ginny, uma ave do paraíso, para um puleiro mais perto de sua mesa. Sua esposa, em vez de envelhecer, havia se transformado nesse belo pássaro, mas ainda insistia em dar um conselho não típico de um pássaro. “Harry, querido, você não pode perder sua própria festa de aniversário. E está tão agradável lá fora”.
De fato, o dia de verão havia trazido dezenas de pessoas fazendo piqueniques, que tinham vindo para colocar suas cestas e seus cobertores perto da luz acolhedora emitida pela estátua viva da família feliz com a criancinha. Ninguém além do velho mestre sabia quem estava preso naquela esfera brilhante. Quando os Dementadores foram libertados do encanto de Voldemort, eles, e na verdade todos os magos, com exceção de Harry e da sombra de Albus, tiveram apagadas todas as lembranças do Lorde das Trevas. Agora, mais de um século depois, a curiosidade a respeito da família na estátua havia terminado havia muito tempo. Harry havia simplesmente mandado colocar uma placa ali. Ela dizia apenas “Riddles”.
“Eu irei”, ele disse à sua emplumada esposa, “mas tenho que tomar conta do menino um pouco”. O tataraneto de Harry, ainda incapaz de falar, brincava silenciosamente no tapete com seu sapo de chocolate. Então, repentinamente, em uma raiva inexplicável, o pequeno Tom esmagou o animal feito de doce. Harry observou, e soube que o mundo todo logo escureceria novamente para as próximas gerações.
FIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não utilize palavras obcenas e degradantes, comentários desse tipo serão rejeitados.