"Durante o chá da tarde, há uma mudança no tempo Um calafrio de tremer os ossos te avisa que ela está lá Há aqueles que acreditam que toda a cidade está amaldiçoada Mas a casa no pântano, é de longe a pior O que ela quer é desconhecido, mas ela sempre volta O espectro das trevas, a Mulher de Preto."
O poema narrado por uma criança no primeiro teaser trailer nos revela os caminhos que o enredo percorrerá. Aconteceu na sede da Paris Filmes nessa quinta-feira a cabine de “A Mulher de Preto” (The Woman In Black), o primeiro filme de Daniel Radcliffe em um papel adulto após Harry Potter e que se passa no vilarejo Crythin Gifford, uma região remota da Inglaterra. Daniel é Arthur Kipps, um jovem advogado viúvo de Londres, destinado a cuidar dos papéis de um cliente recém-falecido. Ao chegar à vila, descobre que seus moradores acreditam em uma maldição que relaciona suas crianças à casa Eel Marsh, uma mansão que fica no pântano, afastada do pequeno vilarejo. Essa é justamente a casa da qual Arthur deve cuidar da papelada. Movido pela responsabilidade de manter seu emprego para que possa cuidar de seu filho de quatro anos, ele vai até Eel Marsh e lá se vê posto cara a cara com uma mulher vestida de preto, a personificação do que assombra a vila.
Verdadeiramente assustador, o filme começa com Daniel Radcliffe surpreendentemente distante da franquia mágica, principalmente em termos de atuação e fotografia. O visual para um jovem pai em cena nos ajuda a logo de cara colocar o bruxo de lado e ver somente o advogado atormentado pela perda da esposa no parto de seu filho (interpretado por Misha Handley, afilhado de Daniel na vida real). É uma pena que essa fotografia só volte a ajudar de fato nas últimas cenas do filme; durante o clímax, ela nos leva de volta aos mistérios de Hogwarts e por vezes dá ares de boneco de cera ao rosto do ator. Mas em resumo, isso acaba passando como um pequeno detalhe. A atuação de Radcliffe segura bem nossa atenção durante todo o desenrolar da história e transmite veracidade ao público. Não fosse termos visto exaustivamente essa sua faceta de suspense silencioso explorada nos últimos dez anos, teria surpreendido. Depois de tanto tempo, será difícil desconectá-lo de Potter, mas essa visão está mais em quem assiste do que na tela. Daniel parece bem à vontade, livre dessas amarras mágicas. Mesmo porque agora o inimigo, mesmo que também vestindo preto e com rosto cadavérico, é definitivamente mais assustador que Voldemort. A tensão antes dividida em 8 filmes, se concentra agora em quase duas horas. É mais intenso e palpável.
Ciarán Hinds (que contracenou com Radcliffe em “Relíquias da Morte - Parte 2”) interpreta o Sr. Daily, um morador do vilarejo, descrente no espiritismo tomado como maldição por seus vizinhos. Ele encontra Sr. Kipps na viagem de trem até Crythin Gifford e acaba se tornando o ponto de apoio do advogado durante toda a trama, o ajudando a cada passo, mas evitando se envolver diretamente com a jornada principal de Arthur, relacionada à figura da Mulher de Preto. Janet McTeer causa umas boas doses de pressão no apoio de braço das cadeiras do cinema como a esposa do Sr. Daily, uma senhora perturbada pela morte precoce de seu filho e que acha que por vezes o encarna.
O longa concentra diversos elementos clássicos das histórias de fantasma, como a mansão mal-assombrada, jogo de luzes e sombras, ângulos de câmera mais próximos às personagens, trilha sonora envolvente e, claro, sustos que nos fazem pular da cadeira. Algumas cenas causam um arrepio real ou um desconforto do espectador (que muitas vezes conversa no cinema como forma de driblar seu medo, atrapalhando as outras pessoas). Há também, por parte dos olhos, uma busca incessante nos cantos de cada cena para procurar uma mulher vestida de preto. E como todo bom filme de terror atual, as crianças são extensamente utilizadas para apresentar o contrabalanço entre o puro mundo infantil e o perverso e cruel horror que corrompe até esses seres inocentes, deixando o espectador muito mais perturbado com o que vê. Mas esse mundo seria ainda melhor representado se as bonecas e caixinhas de música não fossem deliberadamente assustadoras por si só, sendo claro que estão ali só pra assustar, sem o lado mais puro desses brinquedos.
Não fica muito claro no final qual a motivação real que a Mulher de Preto tem em suas aparições e assombrações, mas é desafiador e tentador não ficar com os músculos tensionados durante quase toda a narrativa, com destaque para as cenas de Arthur Kipps e Sr. Daily na tentativa de desfecho do mistério, que além do receio de sustos que nos acompanha desde o início, traz também um certo asco atraente em relação ao que se vê."
Rafael Leick, membro da equipe ScarPotter
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