Nos últimos dias, Emma Watson foi entrevistada pelo New York Times, quando falou, entre outros assuntos, sobre seu novo filme As Vantagens de Ser Invisível e como, no começo das filmagens, cantou suas falas para trabalhar o sotaque de sua personagem. A atriz explica que, quando menor, cantava com sotaque americano.
“Eu acho que era porque muitas músicas que ouvia no momento tinham um vocalista americano.”
A partir daí, Emma começou a cantar suas falas para deixar de lado seu sotaque britânico e também a trabalhar com um especialista, até que conseguisse falar naturalmente sem seu sotaque original.
Na entrevista, quando peguntada o por quê de não ter começado logo a atuar em outros filmes, diz que queria se concentrar em seus estudos, dizendo também que acha Daniel Radcliffe muito corajoso por ter feito Equus. Na Universidade Brown, Emma revela que não se adaptou muito bem, fala que se sentiu um pouco isolada lá.
“Em Brown, todos fazem coisas totalmente diferentes uns dos outros e escolhem sua própria direção, o que é ótimo, mas também muito mais difícil. Você não está sempre com o mesmo grupo de pessoas o tempo todo.”
Quando estudou em Oxford, com um programa da faculdade, foi mais fácil, pois estava mais perto da casa de sua mãe e conseguiu fazer um grupo de amigos mais estáveis.
Emma fala também que nos filmes que tem feito, conseguiu trabalhar junto de pessoas das quais sempre quis, como Sofia Coppola, em Bling Ring, e Guillermo del Toro, em The Beauty and the Beast, e como suas experiências ajudaram-na a chegar onde sempre quis.
Apesar de ser constantemente reconhecida em público, Emma diz que ainda não se sente muito confortavel, mas, sabendo que na fama também têm lados negativos, sempre tenta ver o melhor.
Vejam a matéria completamente traduzida logo abaixo. Créditos: Potterish
Emma Watson em entrevista
NY Times
08 de agosto de 2012
A Formanda
Emma Watson, que foi uma das estrelas da maior franquia de filme de todos os tempos, é uma pessoa muito grata e muito sortuda. Como eu sei disso? Porque sentei para conversar com a garota de 22 anos em um gastropub (lugar que vende comida e bebida de alta qualidade) em um bairro muito frequentado no norte de Londres, e ao longo de uma conversa de uma hora ela disse “grata” cinco vezes e “sortuda” oito vezes. Verdade, desses cinco “grata”, dois eram da forma “ingrata” – mas esses foram contextualizados in frases como “Eu me senti culpada porque eu me sentia como se estivesse sendo ingrata…” Então, como você pode ver, Watson é uma jovem mulher que quer deixar bem claro que ela entende que vidas humanas são sacudidas num globo de neve de incertezas, e não é porque ela acabou sendo coberta por flocos de ouro que ela tome isso como algo banal, oh, não. .
De pele pálida, semblante sério, com orelhas de bonequinha de porcelana posicionadas juntamente a sua cabeça de bonequinha de porcelana, seu cabelo castanho amontoado atrás da cabeça, seu corpo magro perdido em uma larga camiseta branca, Watson ainda parece mais nova do que é. Ela tem características puras; todas as linhas de seu rosto – olhos, sobrancelhas, bochechas – parecem sublinhadas. E é bem possível que essa ênfase muito séria, há tantos anos, tenha alertado o diretor de elenco que essa menina de 9 anos deveria interpretar Hermione Granger nos filmes de Harry Potter, ao invés dos vários milhares de outras que estavam engasgando, desmaiando, morrendo para ter o papel. Ah, e há a boca dela, que, ao fazer um beicinho, tem um lábio superior que parece afiado o suficiente para te dar um pequeno corte.
Mas deixando a idade dela de lado, o amadurecimento de Watson afetou mais do que sua aparência física, pois ela está envolvida no transparente – mas profundamente real – trecho de seu status anterior como estrela infantil. Não posso dizer que cheguei a prestar muita atenção em sua atuação nos filmes Potter, mas olhei por muitas, muitas horas na direção geral de telas em que Watson fez feitiços, preparou poções, escondeu animais mágicos e pulou por aí. Eu, com quatro filhos, variando em 11 anos, o mais velhos com a mesma idade que a atriz, e o mais novo com apenas 11, fui exposto à franquia bem mais do que desejei. As performances de Watson, por assim dizer, não são o ponto aqui: é que eu, assim como – sem dúvida – muitos de vocês, fiquei mais velho enquanto ela crescia. Quando o primeiro filme, “Harry Potter e a Pedra Filosofal,” saiu, eu era um relativamente mal humorado cara de 40 anos. Mas quando “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2” finalmente chegou ao seu inevitável final feliz, eu era um cara MUITO mal humorado de meio século de idade.
Portanto, para mim, Watson sempre será uma simpática garota britânica de classe média fingindo ser outra simpática garota britânica que é sortuda o suficiente para ter poderes mágicos pelos quais ela é extremamente grata. Fora da tela, esses poderes mágicos consistem em transformar ‘pular por aí’ em enormes montes de ouro – sua fortuna pessoal é estimada em $40 milhões – que só servem para provas que vivemos num mundo ao menos tão estranho quanto as ficções de J.K. Rowling. Agora Watson começou a pular em veículos mais adultos; o primeiro desses é “As Vantagens de Ser Invisível,” uma ventura independente dirigida por Stephen Chbosky e adaptada de seu romance do mesmo nome (o filme chega aos cinemas mês que vem). É um semi-perturbador romance de aprendizagem, localizado em Pittsburgh nos anos 90, sobre um menino desajustado chamado Charlie, que acha seu grupo no colegial quando se envolver com um bando de desajustados com a mesma mentalidade. Watson interpreta o objeto de desejo dele, Sam, e ela faz isso com uma razoável notoriedade e uma maturidade recentemente achada. Ela também alcança a difícil façanha – para uma simpática garota britânica de classe média – de manter um sotaque americano. Eu falei pra ela o quão bom ele era e ela me agradeceu simpaticamente e explicou como afiou suas vogais: “Minha avó dizia – quando eu era bem pequena e cantava junto com o rádio – ‘por que você canta com sotaque americano?’ Eu acho que era porque muitas das músicas que eu estava ouvindo tinha vocalista americano. E teve algo que Steve disse para mim também: ‘tente cantar as falas com um sotaque americano.’ Isso meu que abriu meus olhos. Então eu trabalhei com um técnico de diálogo e apenas tomei tempo para realmente, realmente ouvir e tentar e tentar e tentar até eu conseguir fazer sem precisar pensar muito. E eu simplesmente sabia que era muito importante.”
Reconheço que a fala acima foi levemente cheia de “tipo”s (embora eu mesquinhamente tenha deixado os “apenas”s e os “realmente”s), essas palavras núncias tão cruciais no discurso de qualquer Meio-Atlântico com menos de 30 anos, mas dá um justo sabor da seriedade e dedicação de Watson como atriz. Eu perguntei a ela por que ela esperou tanto para fazer outros filmes e ela inclinou a cabeça para o lado, pensou por um tempo e então disse: “Eu acho que primeiro não fui atrás de outros porque eu sempre estava ou estudando ou filmando; eu não tinha tempo para sair e fazer outros filmes ou outras coisas para meio que mostras às pessoas que ‘Oh, ela não é apenas Hermione, ela é uma atriz e pode ir e fazer outras partes e papeis.’ Eu não fiz, porque estava tão focada em, sabe, nos meus GCSEs e no meu AS e nos meus A-levels e então em entrar na universidade e então sei lá, eu realmente não tinha tempo pra fazer nada disso.” Enquanto isso, seus “Potter” colegas, Daniel Radcliffe e Rupert Grint, já tinham começado a aparecer em outros contextos antes da franquia acabar; Radcliffe mais notadamente numa produção teatral de “Equus”, de Peter Shaffer, um papel distintivamente desafiador que implica sturm and drang (movimento da literatura alemã, “tempestade e estresse”) e nudez frontal total. Watson considerou a performance “incrivelmente corajosa, e eu acho que as pessoas ficaram impressionadas com sua dedicação e sua ética no trabalho. Quer dizer, ele fez a peça quando tinha, tipo, 17 anos, e ela é obscura e exigente e, é, e você bem literalmente tem que ter bolas para fazê-la.”
Watson terminou estudando na Universidade de Brown e, quando conversamos, ela tinha acabado de terminar de fazer um ano no exterior na Universidade de Oxford. Ela tem mais um semestre na Brown antes de completar seu curso. Não que ela tenha apenas estudado e Potterizado – Watson é o rosto da Lancôme, e teve trabalhos como modelo nesses últimos três anos. Ela me contou que esse era seu jeito de estabelecer uma identidade pública para si mesma para se separar da personagem CDF que é Hermione Granger.
Watson optou por Brown porque dava a ela mais flexibilidade para completar a filmagem de Potter, e então fazer sem remorsos a divulgação dos filmes. Eu perguntei se ela aproveitou seu tempo lá, sendo que estava sempre indo para outro lugar, e ela disse, “Meus primeiros dois anos em Brown não foram fáceis, não porque eu sofria bullying ou porque alguém em particular me atazanava, mas apenas porque, sabe, sem o sistema colegiado… e em Brown todo mundo faz coisas complemente diferentes e praticamente escolhe seu próprio caminho, o que é ótimo, mas é também muito mais difícil, também. Você não está com um grupo de pessoas o tempo todo de uma só vez.”
Seu último ano em Oxford foi mais fácil, parcialmente porque ela estava vivendo na universidade e conseguiu achar um círculo de amigos, mas também porque estava mais próxima à casa de sua mãe. Ela cresceu ali, com finais de semana na casa do pai no mesmo bairro de Londres em que estávamos tendo a entrevista. (Seus pais, ambos advogados, se separaram quando ela era pequena.) Observando sua carreira através dos anos de uma forma inconstante, eu tinha a impressão de que havia alguém totalmente experiente olhando por ela – algo que ela inicialmente interpretou errado, mas então disse: “É, eu acho que tive sorte que meus pais não foram levados por isso; não era algo que eles queriam pra mim, não era algo que os intimidava. Eles me deram o melhor conselho que podiam, e acho que eles me deram um muito bom. Mas minha mãe particularmente disse, ‘Certo, você vai fazer essas entrevistas e eles vão te perguntar tudo que eles quiserem, e toda vez que te perguntarem alguma coisa, pense se você estaria confortável discutindo isso com um estranho.’” Watson sem dúvida é pé no chão, e possivelmente foi por isso que ela foi astuta o suficiente para perceber que a franquia Potter agiu como um suporte para ela seguir uma carreira; que é também porque ela tirou um tempo da universidade – testando suas pernas numa produção estudantil de Chekhov, “Three Sisters,” além de outras coisas — antes de fazer sua própria decisão de continuar como atriz profissional. A abordagem calculada está pagando dividentos: depois de “Invisível” ela filmou “The Bling Ring” com Sofia Coppola em Los Angeles, e quando ela falou comigo ela estava para começar a fazer “Noah”, Darren Aronofsky, em Nova York. É uma ascensão relativamente inteligente: de filmes infantis para filmes independentes para filmes nota A de casas de arte – e observei que de fora parecia bastante calculado. Para começar, Watson objetou: “Eu não tenho realmente certeza de como consegui fazer isso.” Mas então ela caiu um pouco mais na real: “Acho que estranhamente na minha cabeça eu sabia o que queria, mas não sabia como chegaria lá ou se algum dia aconteceria. Mas antes de ‘Bling Ring,’ eu disse que queria muito conhecer Sofia Coppola e — isso foi antes de ela ter um filme em mente – e acabei conhecendo-a. E Darren foi alguém que na verdade eu conheci há um ano. E então eu estou fazendo um filme com Guillermo [del Toro] no verão que vem, e eu cheguei nele e disse que a Warner Brothers tinha me dado um roteiro para ‘A Bela e A Fera,’ mas que eu só realmente gostaria de participar do filme se ele estivesse nele. E então milagrosamente ele disse, ‘Oh, que engraçado, ‘A Bela e A Fera’ é meu conto de fada favorito. Eu não posso deixar mais ninguém fazer isso; começarei a juntar uma equipe.’”
Há reflexos incipientes aqui de uma movedora e agitadora de Hollywood no futuro, mas, conversando com Watson, eles foram apagados por uma impressão de alguém ainda procurando por criação em cada nova família temporária que encontra – seja no círculo Potter, no elenco de “Invisível” ou em Brown. Suspeito que talvez seja essa conexão emocional que ela procura tanto quanto a realização por meio da atuação. Ela certamente não tem desejo pelo chamativo estilo de vida que seu dinheiro poderia manter, isso ela deixou perfeitamente claro – e eu acredito nela. (Watson conversou um pouco comigo sobre seus papeis, mas eu simplesmente não consigo ouvir atores quando eles falam sobre seu trabalho – o mundo ao meu redor fica meio enevoado, e com freqüência eu fico totalmente fora do ar. Eu ator Shakespereano famoso estava uma vez falando comigo no almoço sobre seu Lear, e eu quase arranquei meu olho com a parte superior do moedor de pimenta.)
Eu fiquei tocado também com as histórias de Watson começando a perceber a extensão horrorosa de seu rosto sendo reconhecido como uma estrela infantil. Ela me contou que até ela ter 15 ou 16 anos ela ainda pegava o ônibus de Oxford para Londres, determinada a ser apenas uma garota comum – essa era sua estranha forma de rebeldia – mas que se tornou muita coisa quando todo mundo no ônibus estava ou falando com ela ou falando sobre ela. Hoje em dia, embora ela possa andar por aí razoavelmente feliz em áreas calmas de Londres ou Nova York, há muitos outros lugares que estão fora do alcance: “Se eu fosse para algum lugar cheio, não duraria por muito tempo. Eu não posso ir a um museu, duraria 10 ou 15 minutos lá. O problema é que quando uma pessoa pede uma foto, alguém vê o flash, e então todo mundo meio que… é tipo um efeito dominó. E aí rapidamente a situação começa a ficar fora do controle a ponto em que não consigo aguentar sozinha.” Eu sugeri a ela que com a fama chega um ponto em que você decide que qual seja o ponto ruim de pessoas te encarando na rua, o ponto positivo permanece, e eu fiquei ainda mais tocado pela mordacidade da resposta dela: que é mais apenas como “se a vida te dá limões, faça uma limonada.”
Hoje em dia Emma Watson está determinada a fazer mais limonadas e, ao deixá-la, pensei: eu realmente espero que seja potável – e então olhei para mim mesmo. Afinal, por que isso importa pra mim? Ao contrário de sua interior encarnação nas telas, não serei obrigado por meus filhos a presenciar as próximas. Não, eu posso decidir assistir a seus filmes ou não, como eu quiser, assim como ela escolheu se tornar uma verdadeira atriz adulta. E isso, certamente, é o que a arte cinematográfica deve ser: um ato consensual entre adultos.
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